Vermelho cor de sangue
Ele estava lá, sentado, olhando tudo ao seu redor, as cores das poltronas vermelhas, a mesa vazia sem nem um copo d'água. Ele olhava para frente através dos seus óculos de fundo de garrafa, parado, não tecia um comentário, nada. Apenas pensava e observava. Todas as pessoas na frente dele, mas não olhavam para ele e sim para ela. Aquela que falava e falava e continuava a falar. Ás vezes ela olhava para ele, mas ele nem percebia, estava estático, olhando para frente.A mulher falava sobre sua obra, seu texto, seus personagens, sua história. Falava como se fosse a dona, a tivesse escrito. Tecia comentários, criticava, desmerecia e ainda fazia piadinhas e ele, imóvel, olhando para frente, observava o vermelho da poltrona, imaginando o sangue para pintá-la, quantos pescoços, quantas mordidas e quantos gritos. O vermelho o fazia viajar pelas tantas mulheres que ele teve e que agora, uma delas, estava ali ao seu lado falando, não democraticamente, da sua história, do seu livro.
Mais de 10 anos que ele levara para escrevê-lo, uma década, uma vida e agora a sua menina dos olhos era destrinchado na frente de alunos, curiosos e farreiros. Chatos.
Ele levanatou, abaixou os óculos sobre a mesa, aplaudiu junto com os outros a mulher e saiu do palco, deixando todos a pensar enquanto ele não parava de pensar: "Quem é ela para falar assim de mim?"
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